Tenho padecido de alguns percalços que tem me privado do prazer da escrita de diários pessoais. Mas hoje eu resolvi aproveitar a tão bem vinda inspiração e disposição possivelmente proveniente do sono pesado sono que tive durante a tarde após o, também pesado almoço.
Hoje meu dia começou com um plano “ambicioso”: Acordar cedo e encarar o congestionado centro comercial visando realizar algumas compras necessárias aqui para casa, pelo visto nem são tão necessárias quanto pareciam. Simplesmente acordei com tanta murrinha que parece que uma família inteira de bichos preguiças resolveram estabelecer residência dentro do meu ser. Decidi pegar o resto de boa vontade que ainda remanescia em mim e, para não morrer de fome, fui à feira local aqui perto de casa comprar algo para comer antes que a minha cara feia de zumbí sonolento ficasse mais evidente.
Minha primeira parada foi o mercadinho,
apesar do “inho”, tem até bastante coisas por lá. Ao entrar tive uma agradável
surpresa: A vendedora estava com seus cabelos soltos, geralmente ela os mantém amarrados
na forma de um estranho coque que mais parece estar equilibrando uma pilha de
livros na cabeça. Ela é jovem, bonita e, devo admitir, bastante atraente.
Decidi elogiar seus cabelos soltos, foi quando ela me revelou que prendia os cabelos
por conta do calor escaldante que tem feito nos últimos meses. O que me faz
pensar: “Será que o sol está tendo um caso de amor com a Terra com direitos a
abraços e beijos solares?”
O calor infernal que tem feito
aqui em Belém ultimamente é algo digno de nota. Sinto-me como se estivesse
derretendo como uma colherada de manteiga numa frigideira quente, até o asfalto
parece estar amolecendo. Juro que tive a impressão de ter visto um pneu de bicicleta
derretendo enquanto passava na minha frente.
Saindo do mercadinho dirigi-me
até a fruteira, apesar de haverem tantas, faço minhas compras em somente uma: “A
do senhorzinho que eu não sei o nome”. A banca dele é bem recheada de frutas, e
o senhor que me atende é bem simpático, estranhamente, nunca soube seu nome.
Mas sempre me trata com muita gentileza, entusiasmo e sempre com um sorriso sincero
que faz o nosso coração derreter tão rápido quanto o pneu daquela bicicleta que
eu mencionei agora pouco. Todavia a situação tomou um rumo um tanto inusitado,
a esposa dele perguntou sobre a minha esposa. Expliquei muito brevemente que
estávamos divorciados há alguns meses, e ela ficou chocada. A filha deles, uma jovem
que quase não falava comigo, tratou-me melhor do que nunca, com direito a
brincadeiras e até um inesperado toque no meu braço. O que ela estaria
pensando? Será que estava vendo em mim a possibilidade de ser pai do filho dela
ou quem sabe até me apresentar alguém?
Até então eu jurava que hoje era
sábado, mas os detalhes da realidade ao meu redor me mostrou que ainda estava
preso na sexta-feira. Acho que meu cérebro queria encurtar o fim de semana,
coisa que não faria muito sentido. Então, de volta a minha casa, retirei todas
as roupas batidas na máquina de lavar e as estendi no varal, depois disso, como
já era hora do almoço, fato deixado em evidência clara pelas reclamações na
minha barriga, tomei uma tigela enorme com 1litro de açaí misturado com açúcar,
farinha de tapioca e um limão espremido, tudo isso acompanhado com uma calabresa
frita no óleo, molho shoyu e tempero do nordeste – é! Aparentemente o calor me
transformou numa máquina de comer.
Após a ingestão desta refeição não muito saudável, capotei na cama caindo num sono tão profundo quanto a gruta Krubera, o meu quarto parecia um forno, mas estranhamente ficou mais agradável, as horas se passaram até que eu acordei na cama deitado mais torto que arame contorcido, acho que vem daí as minhas constantes dores na coluna. Ao me levantar e dar uma olhada fora de casa, percebi que havia caído uma forte chuva e os ventos arrancaram várias roupas do varal, o chão parecia uma estranha obra de arte com as roupas espalhadas por todo lado no chão – Talvez fosse o momento de comprar alguns prendedores de roupas à prova de ventos.
Agora estou na frente do meu
velho PC digitando este diário e pensando...: ”Será que vou conseguir acordar
cedo amanhã e enfrentar o centro comercial? Ou será que o calor derreterá meus
planos assim como aquele pneu de bicicleta?”. O nosso cotidiano muitas vezes se
apresenta cheio de surpresas, reviravoltas e momentos cômicos, e isso nunca
deixa de me impressionar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário